TRADUZIR-SE

 Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir-se uma parte
na outra parte
– que é uma questão
de vida ou morte –
será arte?

Ferreira Gullar

Published in: on maio 26, 2008 at 6:00 pm  Deixe um comentário